Sempre fico impressionado como as diferenças culturais pulam aos nossos olhos nas situações mais inusitadas. Se na maioria das vezes essas diferenças podem gerar, no máximo, uma gafe, em outras situações elas podem colocar uma pedra no caminho, como já dizia Carlos Drummond de Andrade em um de seus mais famosos poemas. Aliás, acho que até Drummond, com um “de” em seu nome poderia ter passado por situação semelhante à minha.
Numa terra onde as pessoas são identificadas pelo sobrenome, seguido pelo primeiro nome e por um tal de “nome do meio”, um simples “da” pode colocar uma pedra no caminho e criar muita confusão. Taí uma coisa que não me entra na cabeça: aqui, uma lista de nomes em ordem alfabética é feita pelo último nome. O mesmo acontece quando se vai preencher qualquer formulário de documento. A pergunta número 1 é sempre: “Qual o seu sobrenome?” Dessa forma, eu “deixei de ser” Erick José Ramo da Silva para ser Silva, Erick J. R. da. O problema começou justamente quando o “da” foi parar no lugar onde não devia.
Eu sempre entendi que o “da” presente no meu nome atua apenas como preposição, ligando o Erick José Ramo ao Silva, não sendo, portanto, parte do meu sobrenome. Espero não estar errado nessa observação. Caso esteja, peço aos meus parentes que me corrijam. Enfim, o causo começou a se desenhar em Agosto de 2008, quando vim para a UNC fazer o doutorado-sanduíche. O secretário do laboratório não pensou como eu e entendeu que meu sobrenome era “da Silva” e assim me cadastrou no sistema da universidade, sem que eu tivesse percebido tal fato. Até aí tudo bem. Ao retornar à UNC, meu cadastro teve que ser atualizado e reativado. Tudo parecia simples, pois era só reativar o mesmo número de identificação que tinha antes e pronto! Dessa vez, no entanto, o secretário me cadastrou com o sobrenome “Silva” e um número de identificação diferente foi gerado. Era como se outra pessoa, com o nome parecido com o meu, tivesse chegado para trabalhar na UNC.
Para dar continuidade ao processo de atualização e reativação do cadastro, era necessário que o pessoal de outro setor da universidade me achasse no sistema, mas ninguém conseguia, pois estavam procurando um Silva com um número de identificação de um da Silva. Os dias foram passando e nada... Finalmente, 10 dias após a minha chegada, o secretário encontrou o problema. Para resolvê-lo, porém, eu teria que ligar no departamento de pessoal e explicar qual era o meu sobrenome. Somente depois de várias explicações sobre meu nome completo, sobrenome e esse bendito “da” é que o problema foi resolvido. Pensei comigo, tanta confusão por um “da”.
Curiosamente, nesse mesmo dia fui jantar num restaurante chinês perto de casa e na hora de pagar a conta, a caixa viu minha assinatura e comentou sobre o meu nome “longo”:
- Você tem os sobrenomes do seu pai e da sua mãe? Perguntou.
- Não. Meu pai e minha mãe tinham o mesmo sobrenome na época em que se casaram. Respondi já imaginando que iria ter que explicar novamente a história do “da”.
- Nossa! Eles se casaram mesmo assim? Na China, as pessoas que têm o mesmo sobrenome não podem se casar. Comentou como se eu tivesse acabado de falar uma terrível blasfêmia.
Fiquei sem palavras, mas imaginando a cena: a senhora Zing da Silva não pode se casar com o senhor Zhou da Silva, mas pode com o senhor Zhan e Silva. Ainda bem que isso não é verdade para nós, caso contrário, a taxa de natalidade iria lá pra baixo....
Thursday, April 29, 2010
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Esse Silva te persegue desde o teu primeiro artigo, ainda na faculdade: SILVA, Erick José Ramo da. A diferença eh q o 'da' era apenas um mero coadjuvante...
ReplyDeleteLer um pouquinho sobre sua jornada ajuda a diminuir (bem pouco) a saudade... Já espero pelo próximo! Bjs
ReplyDeleteO fiote. Para de frescurinhas e deixa de DA. Como diria o velho saudoso Vicente Matheus: "QUEM TÁ NA CHUVA É PRA SE QUEIMAR". Portanto, ou DA ou desce de volta pro Brasil. Mas ao se apoquenhe, pois as coisas na terra do Tio SAM vão DA certo. Abraços.
ReplyDeleteEu posso fazer um comentário sobre um comentário? Wagnão: Adorei o trocadilho!!!!
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