O dia 12 de Janeiro de 2012 entrou para a minha história como uns dos mais tristes ao longo dos meus 31 anos de idade. Essa data ficará marcada pelo falecimento da minha avó, Maria Alves da Silva. Abro esse espaço para prestar minha homenagem a essa Mulher de garra.
Vovó batalhou muito para criar sozinha seus 5 filhos (quatro homens e uma mulher). Ela não contou com o apoio do seu ex-marido, que se mudou de casa para morar com outra mulher quando seus filhos ainda eram crianças. Não podemos sequer imaginar o quanto a vida foi dura para uma “mãe solteira” numa época em que divórcio nem era legalizado e separação era um enorme pecado. Perante toda a dificuldade, Vovó perseverou. Sem ter educação formal, Vovó sentava-se por horas à frente de sua máquina de costura, trabalhando arduamente para comprar o básico para sustentar suas crianças. As encomendas nem sempre apareciam e a pobreza sempre batia à sua porta sem ser convidada. Jamais vou esquecer do meu pai e tios lembrando de dias difíceis, quando Vovó deixou de se alimentar para que eles pudessem ter o que comer no jantar. O tempo passou e seus filhos se tornaram adultos e cidadãos de bem, trabalhadores iguais a ela.
Uma vez por semana, aos domingos pela manhã quando eu era muito pequeno e aos sábados à tarde nos anos seguintes, os filhos e netos se reuniam em sua casa. Um encontro em família repleto de risadas, discussões, gritos pra lá e gritos pra cá, um se arretava com o outro e vice-versa. Mas na semana seguinte, lá estávamos na casa dela novamente. Lembro-me das vezes em que meus amigos do Colégio de Aplicação ficavam arretados comigo, pois eles iam ficar com um goleiro a menos nas peladas de sábado à tarde. Todos sabiam que naquele dia, naquela hora, o futebol não era prioridade.
Quem a conheceu sabe o amor de pessoa que ela era, simpática e muito bem humorada, sempre tinha uma piada ou uma história de suas viagens para o Sertão do Cariri da Paraíba para contar. Sim, ela viajava regularmente para essa região pobre do Sertão paraibano, onde visitava parentes e amigos e era uma pessoa muito amada por todos de lá. Durante décadas foi uma constante e abnegada doadora de roupas e outros artigos básicos para as famílias sertajenas pobres e necessitadas. Muitas vezes viajou sozinha de ônibus carregando trouxas de roupas mais pesadas do que ela mesma. Fez essas viagens até quase o fim de sua vida e sempre falava que queria ir lá “só mais uma vezinha”. Infelizmente, não conseguiu devido à sua saúde fragilizada nos últimos meses.
Como se não bastasse, também distribuía doces e guloseimas para as crianças do seu bairro no Recife e do Cariri no dia de Cosme e Damião. Lembro-me do meu tempo de criança e da ansiedade que me dava na semana anterior ao dia dos dois santos, pois eu tinha que esperar até o sábado para pegar meu saquinho recheado de bombom, paçoca, pipoca e outras delícias... Havia um saquinho separado para cada neto.
Vovó fumou cachimbo por mais de 70 anos (chamava seu velho cachimbo de “meu marido”). Até que um dia, já com mais de 80 anos de idade, resolveu parar de fumar e nunca mais botou o cachimbo na boca, num exemplo de perseverança e força de vontade para qualquer pessoa que deseja parar de fumar. Costumávamos dizer que essa foi a sua segunda separação.
Tive o prazer de estar ao lado dela em sua primeira viagem de avião, de Recife para São Paulo, em 2007. Tudo era novidade, percebia-se o seu brilho nos olhos de alegria e satisfação pela experiência. Ela simplesmente adorou ao saber que estava a mais de 10 mil metros de altitude e 800 km/h. Ao retornar para Recife, disse que já estava pronta para a próxima viagem.
Eu sou ateu. Não acredito em nada que não possa ser explicado pelas leis da natureza, incluindo a existência de qualquer lugar para onde vão aqueles que nos deixam. Ao mesmo tempo sou uma pessoa de muita fé na vida e no melhor que ela nos dá. Posso garantir que Vovó vai viver pra sempre, pois ela jamais sairá do nosso coração e da nossa memória e isso é alcançar a imortalidade. Eu sinto muito não ter estado lá para me despedir dela.
Meus sábados à tarde jamais serão os mesmos...
Lindo texto!!! De fato, nossas tardes de sábado jamais serão as mesmas..
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